Minha tontura pode ser da enxaqueca mesmo sem dor de cabeça?

A enxaqueca vestibular é uma das causas mais comuns de tontura em adultos, principalmente em mulheres entre 30 e 55 anos. O detalhe importante é que a crise de tontura pode aparecer mesmo sem dor de cabeça associada.  


Como isso costuma se manifestar no dia a dia

Talvez você se reconheça em algumas dessas situações:

  • Momentos de balanço interno ou vertigem, aquela sensação de que a cabeça ou o mundo ao redor está rodando.
  • Uma sensação de cabeça “leve” ou instável, como se o chão estivesse meio fofo.
  • Enjoo leve, às vezes só um embrulho no estômago recorrente.
  • Sensibilidade exagerada à luz, a barulhos ou ao excesso de informações ao redor.
    Aquele desconforto que surge em supermercados, shoppings ou olhando telas — como se o ambiente estivesse te estimulando demais.

Muitos pacientes descrevem como uma “tontura que vai e volta”, difícil de explicar, mas que atrapalha a produtividade, o lazer e até a confiança para dirigir.


Por que isso acontece?

A enxaqueca é, no fundo, um problema de hipersensibilidade do cérebro.
 O sistema que processa visão, audição e equilíbrio fica funcionando “em velocidade máxima”, mesmo quando você está em repouso.

Resultado?
Coisas simples como mudanças de posição, falta de sono, luzes fortes, estresse ou telas em excesso podem disparar a tontura ou vertigem — mesmo em pessoas que não tem enxaqueca há anos.


Gatilhos comuns

Alguns padrões de rotina e alimentos que favorecem surgimento das crises:

  • Dormir “quase o suficiente”, mas nunca de fato bem.

  • Estresse prolongado — quadro muitas vezes silencioso.
  • Café em excesso ou em horários irregulares.
  • Álcool em geral (especialmente vinho tinto), queijos envelhecidos, embutidos e processados

  • Dietas que causam picos de glicose ao longo do dia.

Muitas pacientes relatam que sentem como se “o corpo estivesse no limite, mas o dia não permitisse parar”.


Como ajustar o estilo de vida para reduzir as crises

Pequenas mudanças, quando mantidas com constância, fazem muita diferença:

  • Sono consistente: horários fixos para dormir e acordar, inclusive nos fins de semana.

  • Cafeína até 13h para evitar hiperestimulação.

  • 30–40 minutos de atividade aeróbica moderada pelo menos 3 vezes na semana. Cuidado: exercício intenso pode ser um gatilho.

  • Reduzir telas à noite para ajudar o cérebro a desacelerar.
  • Mindfulness/Meditação

Essas medidas diminuem a hiperreatividade sensorial e reduzem a frequência e intensidade das crises.


Quando é hora de procurar um especialista

Se você percebe que essas sensações de tontura estão se repetindo, atrapalhando sua rotina ou trazendo insegurança para atividades simples — como trabalhar, dirigir ou até descansar — vale procurar um otoneurologista.
 Esse é o especialista que avalia de forma aprofundada o sistema do equilíbrio e diferencia a enxaqueca vestibular de outras causas possíveis.

Com um diagnóstico preciso e alguns ajustes na rotina, a grande maioria dos pacientes melhora muito.
 Você não precisa conviver com a tontura como se fosse “normal”.
 Há tratamento — e há caminhos claros para retomar sua qualidade de vida.

Referências Bibliográficas

Lempert, T. & Neuhauser, H. “Migrainous vertigo.” Lancet Neurology, 2009.

Beh, S. “Vestibular migraine: current understanding and future directions.” Cephalalgia, 2020.

Formeister, E.J. et al. “Prevalence of vestibular migraine in the US.” Otolaryngology–Head and Neck Surgery, 2018.